Raimundão do Táxi – O analista urbano
O
Candidato
Depois de um dia bastante agitado, por
conta da visita dos candidatos a cargos eletivos, nosso amigo o lendário
Raimundão do Táxi, prepara-se para encerrar os trabalhos quando o telefone
toca:
- Alô. Raimundo Nonato Oliveira as suas
ordens!
- Alô.
Raimundão cara, é o Valmir.
O Valmir é um taxista que no passado
Raimundão deu-lhe “uma força” quando o mesmo atravessava uma grande turbulência
na vida.
- O meu patrão ficou num povoado aqui
perto na visitação para conquistar votos.
- Ah! Sei, seu patrão é candidato?
- Sabe como é que é né Raimundão!
- Pois bem. Em que posso ajudar aos
amigos?
- Fiquei de ir buscá-lo, mas precisei
passar na oficina e aqui vai demorar mais do que era previsto. Daí que estou te
ligando, te pedindo que vá até lá e traga o Doutor para seus aposentos.
- Tudo bem meu irmão!
Chegando ao povoado Raimundão observa a
aglomeração na pracinha em torno do candidato, ele contorna e estaciona na
posição de bater em retirada.
Quase meia hora depois nosso taxista
consegue se aproximar, se apresentar ao candidato, colocando-se às suas ordens.
O papo rola, rola...
Finalmente o candidato se dirige a
Raimundão convida-o para retornar à sede, ao mesmo tempo em que supostos
eleitores fazem seus últimos pedidos.
Já na estrada que dá acesso a rodovia o
candidato se apresenta a Raimundão (J.R.) com a intenção de pedir-lhe voto:
- Seu Raimundo o senhor já tem
candidato?
- Já, sim senhor!
Raimundão respondeu referindo-se a O
Candidato ao qual ele J. R. ainda não havia aceitado em sua vida.
- Pois se ainda não tivesse gostaria que
me desse uma oportunidade, um voto de confiança, para que eu pudesse
verdadeiramente lhe representa e a sua classe na câmara.
- Pois é doutor, neste pleito o senhor
não contará com o meu voto, entre outros motivos não o conheço suficiente para
através de o meu voto confiar-lhe uma responsabilidade tão grande que é cuidar
bem de pessoas.
- Para um simples taxista o senhor fala
bem. Gostei do senhor. Realizaríamos grandes feitos a favor da população mais
carente, você como meu assessor.
- Gostei do senhor também, não gostei da
entonação quando referiu-se a minha profissão.
- Seu Raimundo, por favor, me perdoe se
eu lhe ofendi, não era essa a minha intenção.
- O senhor não deve me pedi perdão, eu é
que preciso aprender e praticar; não pensar com o volume no máximo. Para
esclarecer melhor o que eu disse, acredite doutor, não faço parte de associação
nenhuma onde reina a hipocrisia, a pouca vergonha, a corrupção, o desrespeito
para com o semelhante.
Estou lhe falando como se eu fosse seu
eleitor, sou convicto que qualquer pessoa
que queira ajudar a um irmão carente,
pode fazer sem exercer cargo na política.
Gestor nenhum ao exercer seu mandato não
está fazendo favor a ninguém, simplesmente exerce sua função para a qual foi
eleito.
Mas o que podemos observar e tomar
conhecimento cada vez mais são notícias de bandidos envolvidos na política,
usurpando tudo que desejam, favorecendo uma meia dúzia de comparsas, canalhas
tanto quanto.
É claro que esse não é o seu caso
doutor, acredito que se providencias fossem tomadas bem antes, haveria ainda
esperança por melhores dias, mas, diante do horizonte proposto por esses
lacaios politiqueiros fico a duvidar.
- É seu Raimundo o senhor deixou
transparecer visivelmente que não aceita bandidagem na política.
- Na política Dr. nem em outra área.
Olhe estamos chegando.
- De qualquer forma valeu seu Raimundo,
Foi bom lhe conhecer, tchau!
- Tá faltando acertar a corrida!
- É mesmo, amanhã pegue com o Valmir.
- Tudo bem. Tchau, boa noite!
- Se ele soubesse que concordo com o
pensamento do Ruy Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver
prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver
agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega desanimar da virtude,
a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.